Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre.
Mas, pela primeira vez,
triste por você. Fico
me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como você,
um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinê brega com gente sem
assunto no próximo domingo e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e
ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria além da sua casca?
Você não entende que eu baixei a música do “Midnight Cowboy” e umas
boas do Talking Heads, Vinícius de Morais e do Smiths porque achei
divertido te fazer uma massa ouvindo algumas músicas que dão vontade de
viver. Uma massa que você não vai comer porque está
perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom.
É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está
perdendo o paladar para mulheres como eu. E você não sabe como vale a
pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de
manga lendo notícias malucas no jornal como o cara que acha que é
vampiro. Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes
da hora.
Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que
acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias.
Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia
valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A
casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas
“quem gostar de mim não serve pra mim”.
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e
jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas
pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A
gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou
sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com a praia do
Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem
certeza de que
nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E você me olha com essa carinha banal de “me espera só mais um pouquinho”.
Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E
sempre volta. Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até
ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que
te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de
tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na
minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir
especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa
gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa
em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter
algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E
eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e
como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um
cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu
nesses lugares deprê em que procura. E do quanto a sua felicidade sem
mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e
principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quê? Eu vou para a
cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de
estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me
esquecer.
Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E
não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu
malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta,
mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante
assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me
acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu
tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a
melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus
bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente “
wanna be” que você adora.
Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e
passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.
Por: Tati Bernardi.